segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Mobilidade do Hálux - Parte 3

Parte final do artigo, escrito pela Emily Splichal, sobre mobilidade do hálux. Falando sobre algumas soluções corretivas para problemas envolvendo o hálux.

Aos que não leram a parte 1: Mobilidade do Hálux - Parte 1.
Aos que não leram a parte 2: Mobilidade do Hálux - Parte 2.





Mobilidade do Hálux: A Peça Vital para Longevidade do Movimento (Parte 3 - Corretivos e Programação)

Emily Splichal


Nas duas primeiras partes, fizemos uma revisão da anatomia e de avaliações funcionais para a mobilidade do hálux. Nesta parte 3 começaremos a explorar a programação de exercícios mais apropriada e quando a cirurgia é realmente a melhor opção.

Gostaria de enfatizar que a maior lição desta série de artigos é que a mobilidade do hálux não é somente um problema local, mas que está interconectada globalmente à estabilidade do retropé, núcleo e quadril (N.T: "Núcleo", tradução da palavra em língua inglesa "core". Retropé, parte posterior do pé).
Como sabemos - tudo está integrado!




Limitações Estruturais na Dorsiflexão do Hálux


Hálux Limitus/Rigidus

(N.T: Degenerações artríticas na articulação do hálux, a articulação metatarsofalangeana. Outro nome que encontramos para a articulação é "metatarsofalângica")
Uma das causas mais importantes para a limitação da dorsiflexão do hálux é estrutural e progressiva - artrite. Frequentemente associada com o envelhecimento, a artrite no hálux é na realidade bastante comum entre corredores, dançarinos, atletas e qualquer cliente que tenha instabilidade no pé (pronação excessiva). 

Esta perda de mobilidade articular não pode ser corrigida com treinamento funcional. Artrite no hálux pode ser administrada ou retardada com corretivos, mas não pode ser revertida. 

Acima, está um raio-x de um paciente com mudanças estruturais na articulação metatarsofalângica. Pode ser vista a diminuição do espaço articular e a presença de osteófitos, o que causa uma grande redução da amplitude de movimento. 

Se olharmos para a vista lateral  do raio-x, podemos ver que o desenvolvimento de
osteófitos no dorso do pé pode ser bastante impressionante - não admira que este cliente não tenha dorsiflexão.  

É preciso enfatizar que em clientes como esses, o uso de mobilizações articulares agressivas pode levar à fraturas nestes osteófitos, levando a problemas ainda maiores do que aqueles que tinham anteriormente. 

É preciso saber sempre o estado de saúde da articulação antes de começar a manipulá-la.

Então o que pode ser feito com um cliente como esse?


Cirurgia é sempre uma opção e o procedimento ideal (que dependerá, claro, da saúde da articulação) é um procedimento de descompressão com remoção dos osteófitos. Eu, pessoalmente, tento evitar o procedimento de fusão da articulação o máximo possível, mas às vezes a condição da articulação requer uma fusão. 

Se cirurgia não é uma opção ou não é desejada pelo cliente, eu frequentemente 
recomendo usar uma "ROCKER FOREFOOT BAR OR SHOE" (N.T: Sem tradução para português, que eu saiba, mas os calçados com a sola do tipo "rocker" são aqueles de solado grosso e arredondado)

O "FOREFOOT ROCKER" é uma barra de grafite, que permite ao cliente fazer a dorsiflexão sobre o calçado, melhora a função e pode eliminar a dor. Este tipo de calçado permite ao cliente alcançar uma extensão do quadril apropriada para a propulsão, a despeito de ter menos de 30º de dorsiflexão no hálux (Pense em calçados do tipo Sketcher Shape-Up).
(N.T: Mais informações sobre este tipo de calçado em um artigo, dessa mesma autora, chamado: Escolhendo o Calçado Correto - Parte 2).

Sketcher Shape-Up




Limitações Funcionais na Dorsiflexão do Hálux

Esta é uma área onde a maioria dos profissionais será capaz de ajudar os clientes a melhorar a mobilidade do hálux. Funcional, significa que isso (a perda de mobilidade) é causada por uma perda de estabilidade em algum outro lugar do pé (ou do corpo).

Este tipo de limitação na dorsiflexão do hálux irá geralmente demonstrar boa mobilidade em cadeia cinética aberta, mas perdem esta amplitude de movimento assim que colocam o pé no chão (cadeia cinética fechada). 

O local onde iremos procurar primeiro por instabilidade seria o primeiro raio.

Perda de estabilidade no primeiro raio tipicamente se apresenta em pacientes com a diminuição do arco medial, inversão ou eversão excessiva da articulação subtalar, queda do navicular e glúteos sub-ativos. Pelo bem deste artigo, nem todos estes problemas irão ser abordados aqui, no entanto, na Certificação EBFA (N.T: Evidence Based Fitness Academy) falamos disso em detalhes.  


Eversão Excessiva da Articulação Subtalar

Na parte 2, nós demonstramos brevemente como a eversão da subtalar pode causar instabilidade do primeiro raio. Para recapitular - essa posição instável faz com que haja uma "folga" no tendão do fibular longo, causando um atraso ou uma flexão plantar insuficiente da cabeça do 1º metatarso relativa à base da falange proximal.

Nesse cliente, nosso objetivo é melhorar o posicionamento da subtalar através do fortalecimento do tibial posterior, ativações (N.T: Ela cita uma ativação que eles chamam de "short foot") e fortalecimento do glúteo. Um dos meus exercícios favoritos para um cliente como esse é colocar uma bola entre os calcanhares (figura à direita).


Inversão Excessiva da Articulação Subtalar 

Para o cliente que tem uma dorsiflexão limitada do hálux devido à inversão da articulação subtalar e de dorsiflexão do primeiro metatarso, nosso objetivo é aumentar a mobilidade do pé e neutralizar a subtalar.

Para este cliente o objetivo é mobilizar a planta do pé, tibial anterior e os rotadores
profundos do quadril (N.T: Os rotadores profundos são: Piriforme, obturadores interno e externo, gêmeos superior e inferior e quadrado femoral)







Combinação de Limitações Estruturais & Funcionais na Dorsiflexão do Hálux

Hálux Valgo

Similar ao HALLUX LIMITUS (N.T: Degeneração artrítica do hálux, mais especificamente da articulação metatarsofalângica), o cliente com joanetes frequentemente apresenta diminuição do espaço articular e osteófitos que podem começar a bloquear a dorsiflexão. 

A respeito de joanetes, a estrutura não é a única contribuinte para a limitação na mobilidade articular. A formação de joanetes é também grandemente associada com o tipo de pé - especificamente eversão/pronação excessiva e instabilidade do pé generalizada.

Para este tipo de cliente, precisamos considerar ambos, limitações estruturais (necessidade de exames de raio-x), assim como nossa habilidade de desacelerar a formação de joanetes através de exercícios corretivos.

Além de exercícios de fortalecimento do pé e do quadril mencionados acima, para corrigir a eversão da articulação subtalar, podemos incluir um alongamento medial para  o dedão com um tape ou uma órtese (N.T: Ela recomenda uma órtese chamada Bunion Bootie: www.bunionbootie.com).

Esta puxada medial irá alongar levemente o músculo adutor do hálux, assim como melhorar a posição do abdutor do hálux para uma melhor ativação intrínseca.



Dicas Finais

Algumas modificações que podem ser inseridas e calçados que podem beneficiar os clientes incluem: 
- Reverse Morton's Extension (N.T: Uma espécie de palmilha que tem o objetivo de aliviar a pressão na 1ª articulação metatarsofalangeana e deixa essa articulação em leve dorsiflexão).
- Cluffy Wedge (N.T: Uma órtese para o hálux, uma espécie de cunha que também deixa o dedo em permanente dorsiflexão).


Finalmente meu último conselho:

- Por favor, saiba o porquê de estar fazendo o que quer que seja. Tenho visto muito "Cluffy Wedge" para todo mundo! Penso que nem todos entendem por completo para quem e quando isto é mais apropriado.  
- Lembre-se, muitas vezes o melhor é encaminhar para um colega que possa lidar melhor com o problema.
- Quando em dúvida encaminhe seu cliente para fazer um exame de raio-x ou dê uma olhada no exame caso haja (se estiver dentro do seu rol de habilidades).

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Mobilidade do Hálux - Parte 2

Continuando com o artigo, escrito pela Emily Splichal, sobre mobilidade do hálux. Nesta segunda parte o foco é em cima de avaliações da área. 

Aos que não leram a parte 1: Mobilidade do Hálux - Parte 1.





Mobilidade do Hálux: A Peça Vital para Longevidade do Movimento (Parte 2 - Avaliações Funcionais)

Emily Splichal


Nessa segunda parte vamos rever algumas técnicas de avaliação funcional para o hálux, para assegurar que estamos avaliando acuradamente e efetivamente a sua dorsiflexão. 

Se lembrarmos da parte 1, enfatizamos a interconexão entre mobilidade do hálux, estabilidade do primeiro raio e posicionamento da articulação subtalar. Lembrem-se desta interconexão à medida que formos analisando as técnicas de avaliação. Se não leram a primeira parte, recomendo que o façam antes de proceder na leitura desta parte 2.



Avaliação de Cadeia Aberta x Cadeia Fechada

Quando consideramos a dorsiflexão do hálux, sempre procuramos fazer avaliações de cadeia aberta e fechada. A razão é que em uma avaliação de cadeia aberta, teremos uma ideia da integridade articular e somos capazes de verificar qualquer crepitação articular ou alterações artríticas que podem estar presentes. Enquanto que em avaliações em cadeia fechada estamos avaliando a estabilidade funcional do pé, para ver se ela permite a dorsiflexão máxima do hálux. Uma não deveria ser feita sem a outra.



Passo 1 - Aparência Geral da Primeira Articulação Metatarsofalângica

Sembre comece olhando para a aparência da articulação, sem a descarga de peso.  

Existe algum joanete? Dependendo do tamanho do joanete pode ser afetada a integridade articular, assim como alterar o posicionamento do final da fase de apoio do pé no solo durante o ciclo da marcha.

Existe algum esporão na parte dorsal do pé? Na presença de artrite e de uma função articular alterada, o corpo começa a criar esporões ou osteófitos ao longo do aspecto dorsal da articulação.

Estes são vistos mais facilmente em um exame de raio-x, mas muitas vezes podemos vê-los e palpá-los ao longo da linha articular dorsal. Dependendo do grau dos osteófitos, eles podem começar a limitar a dorsiflexão do hálux durante o final da fase de apoio do pé no solo durante o ciclo da marcha.



Passo 2 - Integridade Articular


A seguir, você pode avaliar a saúde da articulação para determinar se qualquer mudança artrítica está presente. Ao mover o dedo para cima e para baixo, não somente estamos avaliando a mobilidade, mas olhando para a presença de crepitação, ou "osso com osso".

Neste passo, também se pode determinar se existe limitação na dorsiflexão em cadeia cinética aberta. Se existe alguma limitação em cadeia aberta, com certeza haverá limitação em cadeia fechada.




Passo 3 - Carga no Primeiro Metatarso

No passo 2 estamos simplesmente avaliando a integridade articular, mas não temos uma representação acurada da dorsiflexão do hálux.

Se você olhar para a figura do passo 2 (logo acima), verá que enquanto estou dorsifletindo o hálux a cabeça do primeiro metatarso faz uma grande flexão plantar. Este grau de flexão plantar não é possível quando se está de pé, já que seria bloqueada pelo solo quando caminhamos. Isso significa que a avaliação do passo 2 não se transfere para a dorsiflexão em cadeia fechada.


Para ter uma representação mais acurada da mobilidade em cadeia fechada, temos que colocar uma carga na cabeça do primeiro metatarso, como estou fazendo na figura à esquerda (N.T: Empurrando com o dedo). Isto imita o que acontece com o pé no solo, em cadeia cinética fechada. Agora faça a dorsiflexão do hálux para determinar sua mobilidade.




Passo 4 - Avaliação da Elevação do Calcanhar

Agora com o cliente em pé, começaremos a comparar os achados anteriores com a função em cadeia cinética fechada. A primeira avaliação é a elevação do calcanhar.

Não somente é uma grande avaliação para determinar a habilidade do pé de travar e tornar-se uma alavanca rígida - mas também nos permite analisar a alavanca do antepé do cliente.

Quando o cliente fica na ponta dos pés, analise a altura que ele é capaz de atingir - assim como a capacidade de permanecer sobre as cabeças dos 5 metatarsos das articulações metatarsofalângicas (N.T: Articulação entre as cabeças dos metatarsos e as falanges proximais. Também aparece a nomenclatura de metatarsofalangeanas).  

Na figura acima, eu gostaria de ver o cliente ficar um pouco mais medial, sobre o hálux, durante a elevação do calcanhar (N.T: Na foto podemos ver que existe uma descarga de peso mais lateral). Este achado da avaliação será comparado com a avaliação da marcha e a posição da fase final da fase de apoio na marcha (abaixo).



Passo 5 - Posição da Fase Final do Apoio na Marcha

A posição da fase final do apoio na marcha e a dorsiflexão do hálux são
provavelmente as avaliações mais importantes a serem feitas em relação ao hálux. Se o cliente tem uma boa dorsiflexão do hálux em todas as outras avaliações, mas não consegue realizar de maneira apropriada essa fase final do apoio na marcha, todas as outras avaliações se tornam irrelevantes (N.T: Está se referindo ao pé de trás, na foto ao lado).

Lembre-se, nosso objetivo é otimizar a função e não verificar se nossos clientes passam em avaliações estáticas.


Quando caminhamos, precisamos de no mínimo 30º de dorsiflexão do hálux. Se existe menos do que isso, ou a dorsiflexão não ocorre com a sincronia correta durante o ciclo da marcha, o resultado serão compensações. A mais comum que veremos ocorrer é os clientes assumirem o que é chamado de "LOW GEAR PUSH-OFF POSITION". (N.T: 
High Gear: seria uma posição onde o alinhamento está otimizado, permitindo um bom alinhamento, boa estabilidade do pé e a consequente eficiência aumentada ao empurrar o solo para se deslocar de maneira eficiente. 
Low Gear: ao contrário, seria uma posição onde aparecem compensações, não permitindo uma dorsiflexão do hálux, com a consequente falta de estabilidade do pé e ineficiência ao empurrar o solo para se deslocar. Na foto acima está um exemplo do que seria esta posição, o que ela chama de Low Gear. Podemos ver que o quadril de trás está em rotação externa e que não existe a dorsiflexão do hálux).

Essa posição parece com a imagem acima e é associada com um pé instável. Se você se lembra, durante a fase final de apoio na marcha precisamos da máxima rigidez do pé para permitir produção de potência. Na parte 3 desta série estaremos focando no LOW GEAR PUSH-OFF.



Passo 6 - Dedo sob o Hálux/Avaliação da Articulação Subtalar

Certamente eu poderia colocar um nome mais técnico nesta avaliação, mas acho que "dedo sob o hálux" é mais fácil de lembrar. Nesta avaliação eu gosto de demonstrar aos clientes e profissionais o impacto que a articulação subtalar tem na estabilidade do primeiro raio e na dorsiflexão do hálux. 

Na cliente acima, vimos através das diferentes avaliações que ela tem boa dorsiflexão em cadeia aberta com boa integridade articular (sem crepitação). Quando ela fica em pé e faz o teste de elevação do calcanhar, começamos a ver um desvio do peso corporal se afastando do hálux. Além disso, durante a marcha, ela assume uma "LOW GEAR PUSH-OFF POSITION" - tudo isso indicando um comprometimento da dorsiflexão funcional do hálux.

A próxima avaliação que faremos é para determinar se a limitação da dorsiflexão do hálux é direcionada pela falta de estabilidade do primeiro raio, para isso faremos o teste do dedo sob o hálux

Faça com que o cliente fique em pé em uma posição relaxada do calcanhar. No caso da nossa cliente, você pode ver que ela prona de leve o pé em uma posição destravada (N.T: Unlocked em inglês). Lembre-se que idealmente queremos avaliar a posição da articulação subtalar na visão posterior, não de frente como na foto à direita.


Quando o cliente está em uma posição com o pé "destrancado" e relaxado, avaliamos a dorsiflexão do hálux ao tentar colocar o dedo sob o hálux. Advirta o cliente para permanecer relaxado e não lutar contra ou tentar assisti-lo de nenhuma forma. 

Na figura logo acima, você pode ver que eu mal coloco meu dedo sob o dedão da cliente. Isto é uma quantidade insuficiente de dorsiflexão do hálux. Deveríamos ser capazes de colocar o dedo inteiro sob o dedão.

O que faremos a seguir é colocar o pé em uma posição neutra. Esta posição neutra da articulação subtalar irá fazer com que o primeiro raio adquira uma posição estável e faça com que o fibular longo trabalhe de maneira adequada, como parte da linha espiral, como vimos na parte 1 desta série (N.T: Ela aplica uma rotação externa na tíbia/fíbula, reposicionando a subtalar)

A partir daí, iremos reavaliar a dorsiflexão do hálux com o teste do dedo sob o hálux.


Você pode ver na figura à esquerda que ao estabilizar a articulação subtalar e o primeiro raio, houve uma grande melhora na dorsiflexão do hálux.

Esta avaliação começa a guiar minha abordagem com esta cliente.

Meu foco precisa resgatar a estabilidade e a função da articulação subtalar se eu quiser otimizar sua dorsiflexão do hálux durante movimentos em cadeia fechada.

Na parte 3 começaremos a explorar a programação mais efetiva para melhorar a dorsiflexão do hálux. Por favor, lembrem-se que as técnicas de avaliação são projetadas para provocar a reflexão. Elas não têm intenção de ser definitivas em diagnosticar disfunção no hálux. Uma avaliação completa incluiria imagens, como as proporcionadas por Raio-X, para que tenhamos uma verdadeira perspectiva da saúde da articulação.

Para antecipar a terceira parte desta série, assistam o vídeo abaixo sobre a discussão de HIGH GEAR X LOW GEAR PUSH-OFF POSITIONS.

terça-feira, 3 de novembro de 2015

Mobilidade do Hálux - Parte 1

Artigo do site Evidence Based Fitness Academy, escrito pela Emily Splichal, desta vez falando sobre um tópico ao qual não prestamos muita atenção; a mobilidade do hálux. Nesta primeira, de 3 partes, ela enfoca a anatomia estrutural da região.





Mobilidade do Hálux: A Peça Vital para Longevidade do Movimento (Parte 1 - Anatomia)

Emily Splichal


No final de semana passado eu fui afortunada de apresentar no Perform Better Summit em Providence, Rhode Island (N.T: Tradicional congresso realizado todos os anos pela empresa Perform Better, ocorre em 3 locais: Providence, Chicago e Long Beach). Esse evento educacional de 3 dias é feito pelos melhores educadores e mais entusiásticos profissionais da indústria. Um tema comum em algumas palestras foi a associação entre função e a mobilidade do hálux (N.T: Dedão do pé em uma linguagem mais popular)

O processo aparentemente simples de dorsiflexão do hálux durante a fase terminal de apoio da marcha é na verdade bastante complexo; e se a mobilidade do hálux está comprometida, isto pode causar uma enorme quantidade de compensações e padrões de dor. 

Neste artigo, em 3 partes, iremos começar a explorar como esta articulação é estabilizada e simples técnicas de avaliação e programação que podem ser facilmente implementadas com seus clientes e atletas.


A Primeira Articulação Metatarsofalângica
Primeira articulação metatarsofalângica (pé direito)

Formada pela cabeça do primeiro metatarso e base da falange proximal, esta articulação em dobradiça permite progressão no plano sagital durante a caminhada, corrida, saltos, etc.

Com os movimentos de flexão plantar e dorsiflexão, o movimento terminal durante o final da fase de apoio da marcha (N.T: Quando o pé deixa o solo, retratado na primeira figura acima. Em inglês eles usam o termo "push-off") requer ao menos 30º de dorsiflexão, mas possuir perto de 65-75º de dorsiflexão é o ideal.
Dorsiflexão limitada do hálux nessa fase pode ser associada com "LOW-GEAR PUSH-OFF POSITION", elevação precoce do calcanhar, sobrecarga nos adutores e falta de ativação do glúteo máximo.
(N.T: Low Gear Push-Off, não encontrei um bom termo para tradução desta expressão; push-off seria a fase terminal de apoio da marcha. Na parte 3 a autora entra em detalhes sobre a diferença entre High Gear Push-off e Low Gear Push-off. 
High Gear: seria uma posição onde o alinhamento está otimizado, permitindo um bom alinhamento, boa estabilidade do pé e a consequente eficiência aumentada ao empurrar o solo para se deslocar de maneira eficiente. 
Low Gear: ao contrário, seria uma posição onde aparecem compensações, não permitindo uma dorsiflexão do hálux, com a consequente falta de estabilidade do pé e ineficiência ao empurrar o solo para se deslocar.
Podemos ver a diferença na imagem abaixo, retirada do vídeo da parte 2 desta série de artigos).
2 posições: High Gear (à esquerda) e Low Gear (à direita). Podemos ver a diferença entre as duas; na imagem da esquerda existe a dorsiflexão do hálux, na da direita não há a dorsiflexão e o quadril está em rotação externa.



Complexidade da Dorsiflexão do Hálux

Num primeiro olhar, a dorsiflexão da primeira articulação metatarsofalângica (N.T: Ou metatarsofalangeana, vejo das duas formas) parece bastante simples e baseada em aumentar a ênfase no hálux - esse é o enfoque em muitas palestras que vejo - Penso que é imperativo que os profissionais entendam realmente esta articulação e a complexidade associada com a dorsiflexão do hálux. Melhorar a dorsiflexão requer muito mais do que simplesmente integrar alongamentos para o hálux ou colocar uma cunha sob o dedão.

Então aí vamos nós.


Em movimentos de cadeia fechada como a caminhada, a fase propulsiva da marcha é a fase em que a máxima dorsiflexão do hálux é requerida. Enquanto o pé se prepara para a grande quantidade de produção de potência durante a propulsão, o flexor longo do hálux entra em ação, ancorando o aspecto distal do hálux ao solo.

Este hálux fixado, fornece uma base estável ou alavanca para propulsão, permitindo portanto, à cabeça do metatarso se mover relativa à base da falange proximal (ver figura logo acima).


Rolamento, Deslizamento e Compressão

Se esmiuçarmos ainda mais a dorsiflexão do hálux, veremos que nos primeiros 20º de dorsiflexão - a cabeça do primeiro metatarso rola sobre a base da falange proximal.

Os próximos 10-50º de dorsiflexão requerem que o primeiro metatarso faça uma flexão plantar relativa à base da falange proximal, criando um movimento de deslizamento enquanto o pé se move sobre o hálux. 

O estágio final da dorsiflexão do hálux é a fase de compressão, que sustenta a articulação em uma posição estável.

Para repetir, a cada passo que damos, o movimento do hálux na fase final de apoio da marcha requer um padrão de movimento coordenado de rolamento, deslizamento e compressão da cabeça do primeiro metatarso relativa à base da falange proximal. Se a sincronicidade é modificada ou a cabeça do primeiro metatarso não pode fazer uma flexão plantar relativa à falange proximal, então a dorsiflexão do hálux será limitada, resultando em compensações.


Então como asseguramos um rolamento, deslizamento e compressão apropriados?

Estabilidade do primeiro raio! 

Das fases acima, a mais importante seria a de deslizamento ou a flexão plantar da cabeça do primeiro metatarsal relativa à base da falange proximal. 

Então a questão deveria ser - como asseguramos que a cabeça do primeiro metatarsal faça a flexão plantar relativa à base da falange proximal?
Para responder esta questão nós precisamos saber que músculo faz a flexão plantar do primeiro metatarso.

Para aqueles que fizeram meus cursos: Barefoot Training Specialist (N.T: Uma tradução aproximada seria "Especialista em Treinamento Descalço") - especialmente o nível 2 - deveriam lembrar que o músculo que faz a flexão plantar do primeiro metatarso é o fibular longo.





Se estendendo ao longo do aspecto lateral da parte inferior da perna, atrás do maléolo lateral e sob o cubóide, este músculo se insere na base do primeiro metatarsal e ao cuneiforme medial.



Se olharmos mais de perto a inserção do fibular longo, veremos que ele tem 90% de sua inserção na base do primeiro metatarso e somente 10% no cuneiforme medial. Esta inserção controla a articulação entre o metatarso e o cuneiforme - ou o que chamamos de 1º Raio.





Se juntando ao tendão do fibular longo no lado medial está o tibial anterior, com ambos contribuindo para a Linha 
Fascial Espiral.
                






Primeiro Raio/Estabilidade do Metatarso/Cuneiforme

Com o tibial anterior e o fibular longo como antagonistas diretos um do outro, o equilíbrio entre estes dois músculos é crítico para a estabilidade do primeiro raio ou para a dorsiflexão do hálux. 

Se por alguma razão biomecânica ou neuromuscular, o tibial anterior é mais ativo ou dominante comparado ao fibular longo, então o primeiro metatarsal (primeiro raio) começa a dorsifletir.

Se o primeiro metatarso está dorsifletido, então a fase de deslizamento da dorsiflexão do hálux não pode ocorrer e teremos uma compressão prematura da primeira articulação metatarsofalângica, dorsiflexão limitada e compensações.




Então como asseguramos o equilíbrio entre o tibial anterior e o fibular longo?

Para responder esta questão precisamos analisar a parte de trás do pé, onde acharemos a articulação subtalar. A posição desta articulação dita em grande parte a estabilidade não somente da parte de trás do pé, mas do pé como um todo.


A eversão da articulação subtalar é frequentemente associada com hipermobilidade, flexibilidade e instabilidade do pé. Frequentemente também ocorrem problemas em travar ou estabilizar o pé de uma maneira coordenada. A eversão da articulação subtalar (como indicada na figura ao lado) também faz com que o tendão do fibular longo fique "folgado", dando, portanto, uma vantagem mecânica ao tibial anterior.

Uma vez que é dada esta vantagem ao tibial anterior, o primeiro metatarso começa a entrar em dorsiflexão, a estabilidade do primeiro raio é comprometida e a dorsiflexão do hálux é limitada.  

Mas se você tem um cliente com uma dorsiflexão do hálux limitada e ele tem uma posição neutra da articulação subtalar? Aí e onde o entendimento de técnicas de avaliação em cadeia cinética aberta e fechada é importante.

Na parte 2 desta série exploraremos como avaliar a diferença entre causas estruturais e funcionais da limitação da dorsiflexão do hálux.